Amor, você acredita que o vizinho comprou um carro novo?”, ele diz, com os olhos fixos na tela da televisão.
Eu dou de ombros, enquanto nossos dedos quase se tocam no sofá. “É, ouvi alguma coisa sobre isso.”
Ele sorri de lado, ainda absorto na tela. “Eu gostaria de ter um carro novo.”
Sua voz soa distante, e eu não consigo deixar de me perguntar se ele percebe o silêncio que enche o espaço entre nós. Um silêncio que, ao contrário do que ele imagina, não é vazio, mas cheio de perguntas não feitas e respostas não ditas.
Após cinco anos de relacionamento, uma noite, depois de mais um desses momentos que deixam um vazio em meu peito, eu reúno coragem para quebrar o ciclo. “Você já se perguntou… por que eu nunca chego lá?”
Ele olha para mim, confuso, e depois franze o cenho. “Lá? Onde?”
Sinto meu coração apertar um pouco. Ele não sabe. Ele nunca se perguntou. E, no fundo, percebo que eu também não.
“O orgasmo”, eu digo, sem rodeios. “Você nunca me perguntou se eu já tive um orgasmo.”
Há um momento de silêncio, e então vejo uma mistura de surpresa e desconforto em seus olhos. “Eu… Eu não sabia que era algo que você… que você ainda não tinha experimentado.”
Eu assinto, lutando contra as lágrimas que ameaçam brotar. “E eu nunca mencionei. Mas também não perguntei por que você nunca perguntou.”
Ele suspira, soltando o controle remoto e olhando para mim com uma expressão mais vulnerável do que eu já vi. “Eu nunca perguntei porque… eu pensei que estava tudo bem, que eu estava fazendo certo.”
Minha frustração se transforma em compreensão. “Eu também nunca perguntei porque… eu pensei que tinha algo errado comigo.”
Nos olhamos, dois corações expostos, dois cúmplices em um relacionamento que não é perfeito, mas é nosso. E ali, naquele momento, nasce uma nova conversa, uma conversa que é mais do que apenas palavras.
“Vamos aprender juntos?”, ele sugere, timidamente.
Eu sorrio, sentindo o peso do silêncio finalmente sendo levantado.